segunda-feira, 29 de junho de 2015

Capitalismo X Feudalismo Aprimorado


É no mínimo curioso o fato de compararmos capitalismo com o feudalismo. Afinal, para se entender capitalismo, normalmente estuda-se antes o feudalismo.

De fato, as raízes do capitalismo estão no feudalismo, o que por sua vez, já é um sistema aprimorado do comércio da antiguidade.

No entanto, podemos perceber hoje, que talvez capitalismo não exista, ou pelo menos, ainda não foi aplicado e, se existe em funcionamento, está apenas em alguns pontos isolados, embora tais pontos devem reagir com outros mercados, já que é um dos princípios do próprio capitalismo.

O que vemos hoje em dia ainda é o feudalismo, porém um feudalismo aprimorado.

Lembremos então alguns aspectos que definiram e que ainda podemos dizer que definem o feudalismo:

No sistema feudal, temos alguns personagens, tais como: o senhor feudal, vassalo, rei, clérigo, cobrador de impostos, soldados, camponeses, dentre outros figurantes.

Temos assim os camponeses, que trabalham na produção de alimentos dentre instrumentos de trabalho, armas e etc. Na prática não possuem lucro, pois tudo que produzem, entregam ao vassalo, que “compra” a produção, em troca, recebem dinheiro ou insumos para continuar produzindo, ou mesmo já se desconta de uma dívida mais antiga. Como trabalham duramente, ocorre alguma sobra, o que seria o lucro, mas o cobrador de imposto leva embora. O que vemos é que os camponeses são como escravos livres. São livres, mas para viverem, trabalham a troco de suas sobrevivências.

O vassalo talvez esteja numa posição privilegiada, pois não é um trabalho braçal, mas a responsabilidade é grande. Ele é um “freelance”, mas na prática é um gerente do senhor feudal. É o vassalo que recolhe a produção dos camponeses e a transforma em dinheiro, para assim prestar contas ao senhor feudal. Como ele está acima de vários produtores, torna-se um intermediário que consegue reunir um lucro, pois um pouquinho de cada um lhe permite isso.
Apesar de ter um “status” um pouco acima dos camponeses, não fica livre dos impostos, mas é claro que o vassalo não deixaria de ter uma quantia não contabilizada.

O senhor feudal é realmente a melhor posição para se estar. Não é o topo, como um rei, ou outro nobre. Não possui um rótulo de alguma crença. Não precisa ter um trabalho braçal. Pode ter tudo que o dinheiro pode comprar.

O senhor feudal é dono das terras, onde os vassalos administram os burgos, ou seja, as vilas, que nada mais são do que os centros de comércio e moradia dos camponeses. Uns senhores feudais são mais ricos e donos de mais terras que outros.

Todo o lucro é dele, porém, as despesas são dos vassalos e camponeses. Porém vale lembrar, que seu padrão de vida é alto, o que lhe dá muitas despesas, mas dinheiro não é problema, pois ele controla a economia, juntamente com o time de senhores feudais.

O rei, ou o monarca que conglomera as terras de alguns senhores feudais, mantém um exército para garantir o sistema econômico dos senhores feudais. O governo é controlado pelos senhores feudais. Porém isso é algo discreto, pois faz bem ao ego do representante do governo pensar que possui tudo sob controle, mas o amontoado de parentes e políticos fazem a política de quem controla o comércio.

Embora haja uma grande contribuição da grande população de camponeses, aqueles escravos livres, os senhores feudais é que acabam pagando os grandes investimentos no país.

Os senhores feudais de um país não são limitados por fronteiras, pois possuem parentes em outros países, além de amigos, sócios, ou mesmo parceiros comerciais, que também são senhores feudais. Porém quando um determinado grupo de senhores feudais é ameaçado pela concorrência, ou mesmo produtividade ruim, decorrente de seca ou outro problema, amigos, amigos, negócios a parte. Uma guerra geralmente ajusta essas diferenças, embora impostos de um território para o outro evita perdas de vidas.

O representante do governo finge que governa, mas acaba fazendo a vontade da corte. Qualquer tentativa de mudar o sistema, deixando o comércio livre, ao invés dos especuladores senhores feudais, poderia fazê-lo perder a sua posição, que além de status, garante uma vida de luxo para si, para família e agregados.

O clérigo tenta ficar neutro de todo esse sistema. Uns têm a crença como profissão e, buscam enriquecer os cofres da central religiosa, além de obter benefícios através de artifícios políticos. Outros, porém levam a sério o aspecto espiritual e, buscam levar mensagens de paz e esperança às pessoas. Os ouvintes ricos normalmente acham que não precisam de Deus, porém os mais pobres buscam a provisão de Deus.

Vejamos agora o capitalismo, ou melhor dizendo, o que acontece hoje em dia:

Temos uma classe operária, os trabalhadores comuns. Produzem no campo ou na cidade. Na prática não possuem lucro, pois tudo que produzem não pertencem a eles, no caso de empregados. Trabalham em troca de um salário, que o gastam na sobrevivência, ou mesmo já se desconta de uma dívida mais antiga. Como trabalham duramente, ocorre alguma sobra, o que seria o lucro, mas os impostos levam embora. Porém não é mais um cobrador de impostos humano, pois o sistema é eletrônico nos dias de hoje. O que vemos é que os trabalhadores são como escravos livres. São livres, mas para viverem, trabalham a troco de suas sobrevivências.

Há uma outra camada de pessoas, denominada empresários, que por sua vez são os donos das empresas onde estão os trabalhadores.

O empresário talvez esteja numa posição privilegiada, pois não é um trabalho braçal, mas a responsabilidade é grande. Ele é um independente, mas na prática é uma espécie de gerente dos grandes empresários, pois estes controlam a economia. Isto é, ditam os preços, controlam a mídia, a vontade dos consumidores. Apesar disso, conseguem normalmente juntar um lucro, mas qualquer balanço do sistema econômico, pode-se perder tudo e até o que não tem.

Apesar de ter um “status” um pouco acima dos trabalhadores, não fica livre dos impostos, mas é claro que o empresário não deixaria de ter um caixa 2.

O grande empresário é realmente a melhor posição para se estar. Não é o topo, como um chefe de estado. Não possui um rótulo de alguma crença. Não precisa ter um trabalho braçal. Pode ter tudo que o dinheiro pode comprar.

O grande empresário é praticamente dono dos mercados, pois em associação com os demais da mesma classe, possuem as empresas chaves que giram a economia global, assim controlam desde os preços até as cores preferidas das pessoas. Os empresários, que estão logo abaixo acabam auxiliando a manter o sistema em funcionamento, pensando que a comércio é livre. Mas que pensem. Os grandes empresários não se importam com pensamentos, mas com dinheiro.
Todo o lucro é dele, porém, as despesas são dos empresários comuns e trabalhadores. Porém vale lembrar, que seu padrão de vida é alto, o que lhe dá muitas despesas, mas dinheiro não é problema, pois ele controla a economia, juntamente com o time de grandes empresários.

O chefe de estado mantém um exército para garantir o sistema econômico dos grandes empresários. O governo é controlado pelos grandes empresários. Porém isso é algo discreto, pois faz bem ao ego do representante do governo pensar que possui tudo sobre controle, mas o amontoado de parentes e políticos fazem a política de quem controla o comércio.

Embora haja uma grande contribuição da grande população de trabalhadores, aqueles escravos livres, os grandes empresários é que acabam pagando os grandes investimentos no país. Apesar de quando as coisas vão mal, passa-se a dívida ao país, como o país não tem como ir a falência, fica o dito como não dito, ou seja, “let it be”, deixa estar.

Os grandes empresários de um país não são limitados por fronteiras, pois possuem parentes em outros países, além de amigos, sócios, ou mesmo parceiros comerciais, que também são grandes empresários. Porém quando um determinado grupo de grandes empresários é ameaçado pela concorrência, ou mesmo produtividade ruim, decorrente de seja qual for o problema, amigos, amigos, negócios a parte. Uma guerra geralmente ajusta essas diferenças, embora impostos de um território para o outro evita perdas de vidas.

O representante do governo finge que governa, mas acaba fazendo a vontade de um parlamento (composto em grande parte por “laranjas” dos grandes empresários ou, “batatas” dos trabalhadores, que passam a ser “laranjas”, graças ao dinheiro dos grandes empresários). Qualquer tentativa de mudar o sistema, deixando o comércio livre, ao invés dos especuladores grandes empresários, poderia fazer o representante do governo perder a sua posição, que além de status, garante uma vida de luxo para si, para família e agregados.

O clérigo tenta ficar neutro de todo esse sistema. Uns têm a crença como profissão e, buscam enriquecer os cofres da central religiosa, além de obter benefícios através de artifícios políticos. Outros, porém levam a sério o aspecto espiritual e, buscam levar mensagens de paz e esperança às pessoas. Os ouvintes ricos normalmente acham que não precisam de Deus, porém os mais pobres buscam a provisão de Deus.

Como vemos, capitalismo não existe na prática. Trata-se de ficção de pensadores modernos.

O que temos hoje é um feudalismo aprimorado, pois há um sistema bem mais complexo de comércio, o que é bom para manter as coisas como estão, pois os trabalhadores comuns, apesar das dificuldades, possuem acesso à cultura, o que não era comum no feudalismo. Com um pouco de estudo fariam uma revolução. Porém o sistema econômico não é local, mas mundial, o que fica restrito o entendimento há uns poucos estudiosos.

Há uma gama muito maior de intermediários, ou seja, os empresários comuns, que em grande parte são trabalhadores aprimorados. Ao contrário dos vassalos, os empresários não conhecem a quem eles prestam obediência. È o que podemos chamar de sociedades anônimas legítimas.

Os grandes empresários são muito diferentes do que se entende por empresários, pois o que temos são até pessoas que nem sabem se têm ou não empresas. São os donos do mundo. O que é útil é o dinheiro deles, este é que “trabalha”, enquanto os grandes empresários dormem, jogam golfe, passeiam de iate, ou seja, enquanto fazem qualquer coisa que não seja se envolver nos problemas do mundo. Seus administradores é que ficam com estas peculiaridades. O entretenimento dos grandes empresários e uma subcamada de administradores é um grande aprimoramento do feudalismo.

Há uma interligação de governo e blocos compostos por diferentes governos, que torna o comércio mais global. Com a informática e avanços tecnológicos, não se controla apenas empresas e mercados, mas também governos. Os governos sempre cumprem o que os grandes empresários querem, pois eles controlam as pessoas. De repente um governante é deposto ou morto. De repente um país é invadido e subjugado.

Além disso tudo, há uma rede de notícias facilmente controlável. Assim, o povo como sempre, vai na onda de quem está por cima, seja senhor feudal, seja grande empresário e, ainda pensa que pensa livremente.

Do ponto de vista espiritual, há hoje mais oferta de crenças do que no feudalismo tradicional, porém não em todo o mundo.

A base de um sistema capitalista está associada ao consumo. Porém esta base de consumidores têm sido os escravos livres, ganhando o suficiente para não morrerem. Isso faz com que não haja um livre comércio. O dinheiro é dosado de forma a controlar a população, sem porém, prejudicar o pseudo capitalismo.

Este sistema de dosagem, provocado por preços, impostos e juros controlados pelos governos, é o grande aprimoramento do feudalismo. Ele é tão organizado, que não é feito pelos grandes empresários. Pelo menos, não indiscretamente. E eles ainda atacam o governo. Assim o povo reclama com o governo e, eles continuam jogando golfe, dando voltas de iate, sem serem incomodados.

Como vemos, o que vivemos hoje é o feudalismo aprimorado.


Marcelo Gil da Silva


Bonito-MS, 2007

A hermenêutica da Teologia da Libertação

A hermenêutica da Teologia da Libertação faz uma leitura a partir da realidade na qual ela surge, a América Latina das injustiças sociais e da opressão sofrida pelo seu povo. A partir dessa realidade, os fundamentos da Teologia da Libertação possuem duas bases, sendo a busca pela justiça social e a própria Bíblia.

A hermenêutica então vai se estabelecendo na leitura dos pensamentos dos filósofos do século XIX, especialmente o de Marx, os quais descreveram a situação de exploração do homem pelo homem, com o advento da Revolução Industrial e, por sua vez a percepção da acumulação de riquezas (lucro) por um grupo, em detrimento do trabalho de outro grupo (classe trabalhadora). Tal hermenêutica traz a interpretação de tais pensamentos a uma aplicabilidade teológica, assim como o “encaixe” à realidade de opressão latino-americana.

No entanto, tratando-se de uma construção teológica, não se trata apenas de considerar os pensamentos revolucionários, como o marxista para a interpretação da realidade, mas também a própria Bíblia. Assim, a hermenêutica da teologia da Libertação faz uma leitura bíblica através da ótica liberacionista, como a libertação do povo hebreu descrita em Êxodo, o pacto no Sinai, com seu código de leis beneficiadoras para a fundação de um país com base na justiça, além de dar um sentido aos ensinos de Jesus, como uma afirmação das denúncias e do caráter revolucionário dos profetas do Antigo Testamento.

Embora tenhamos a possibilidade de explorar a Teologia da Libertação através de muitos autores, Leonardo Boff se destaca, produzindo assim uma literatura que envolve a hermenêutica da Teologia da Libertação. Isso envolve também a ideia de transcendência e imanência, na qual Cristo é a manifestação encarnada de Deus, ou seja, Cristo é a imanência do Transcendental, que é Deus. Cristo utiliza uma linguagem totalmente nova à dos profetas do Antigo Testamento, sendo mais direto, mais prático e, definitivamente, muito mais amoroso. Na hermenêutica da Teologia da Libertação, Cristo é a encarnação da luta dos profetas pela justiça social.

Em referência à Bíblia, a Teologia da Libertação necessita de uma hermenêutica por uma ótica da libertação. Pelas práxis, é inevitável a construção de uma teologia, por sua vez de uma hermenêutica a partir e para o contexto, na qual ela surge e se direciona. Assim pelo que se percebe, a Teologia da Libertação é fundamentada através dessas duas linhas, o contexto de opressão e necessidade de justiça social e, o apontamento da Bíblia, através da hermenêutica da TL, pela necessidade de libertação e justiça.

O positivo na construção teológica de uma hermenêutica que remonta o propósito da existência humana, através da imanência do transcendental, a encarnação de Deus, através do espírito da fraternidade, da justiça e da solidariedade. Isso dá sentido a mensagem bíblica, indo além do que já se considera óbvio, que é a Salvação através de Cristo, mas também de como proceder até alcançar tal objetivo. No entanto, encontramos problemas, no desenvolvimento dessa hermenêutica, pois faz a leitura bíblica a partir de uma realidade contextual à necessidade de um povo, o que pode levar a se perguntar até que ponto nos aprofundamos verdadeiramente no significado bíblico ou estamos influenciando essa verdade através de novos conceitos. Melhor dizendo, porque queremos uma interpretação que justifique o que pensamos, desenvolvemos uma hermenêutica que assim faça, não necessariamente é o significado verdadeiro, ou seja, podemos estar vendo o que queremos ver, através da ótica que escolhemos ver.


REFERÊNCIA

AGUILERA, José Miguel Mendoza. TEOLOGIA LATINO AMERICANA. Dourados: UNIGRAN, 2015. 88p.

sábado, 27 de junho de 2015

As terras férteis para as teologias contemporâneas

Algumas teologias vão surgindo e ganham expressão diante de uma sociedade, cada vez mais individualista e ansiosa em encontrar suas ciências e convicções, tendo ou não fundamento bíblico ou tradicional. Vejamos, por exemplo, a Teologia da Prosperidade encontra um terreno fértil na América Latina e, especificamente no Brasil devido a alguns fatores. Assim, citemos alguns deles:
  1. A necessidade de uma libertação do sistema de opressão instalado na América Latina, nos quais os povos se encontram explorados e oprimidos pela forma que o capitalismo se desenvolveu no continente. Assim, uma teologia que dá a esperança de obter a prosperidade financeira, vem a parecer uma solução, ainda que superficial, a situação de pobreza e opressão na  América Latina.
  2. A Teologia da Prosperidade possui suas raízes através de leigos, que apesar de seus conhecimentos empíricos, ainda não sustentam a composição de uma teologia racional, criando assim um paralelo teológico com base estritamente na fé e, deixando fundamentos primordiais um tanto de lado. Encontra-se na América Latina, especialmente no Brasil, um quadro similar nas igrejas, em geral com seus líderes não possuindo a formação teológica acadêmica, construindo a teologia através de experiências, sem uma fundamentação genuinamente teológica. Esse quadro é favorável à absorção de “teologias empíricas”.
  3. Temos na América Latina, especialmente no Brasil, o crescimento do pentecostalismo, que possui uma característica do extra-bíblico, de uma aceitação à autoridade profética, o que coloca as pessoas numa situação favorável a receber uma teologia sem a devida fundamentação bíblica e, mesmo teológica, no caso, a Teologia da Prosperidade, com seus aspectos metafísicos, tendem a se encaixar no pensamento pentecostal, tanto às pessoas comuns, como nos líderes, recordando a formação em geral dos líderes descritas no item anterior.
A teologia é construída a partir de um contexto, de uma realidade, assim as diferentes correntes sócio-políticas e culturais ao longo da história propiciaram a evolução, como a formulação teológica. Assim, surgem as Teologias da Libertação, Feminista, da Prosperidade e, qualquer outra, sob as influências dos pensamentos filosóficos da segunda metade do século XIX até meados do século XX.

As diferentes teologias se utilizam da mesma Bíblia, no entanto, chegam a conclusões diferentes e às vezes opostas. O que tais teologias propõem são visões de mundo extra-bíblicos, ou seja, se utilizam de uma hermenêutica a partir de seus próprios fundamentos, utilizando-se da Bíblia pelos seus olhares específicos. Em resumo tais teologias observam a Bíblia, como algo que está numa rua, porém através de diferentes janelas, por sua vez de diferentes casas que estão de frente à mesma rua.

Dessa forma, ocorrem nessas teologias caminhos além da Bíblia, algumas vezes até mesmo se dando mais importância a esses caminhos do que a própria Bíblia, na qual ela torna-se mais um instrumento de justificação teológica, do que o fundamento da fé cristã, como sua mensagem que aponta ao Evangelho, a Salvação através de Jesus Cristo.

REFERÊNCIAS

AGUILERA, José Miguel Mendoza. TEOLOGIA LATINO AMERICANA. Dourados: UNIGRAN, 2015. 88p.

BÍBLIA, N. T. Português. BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ver. Revista e Atualizada no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

sábado, 20 de junho de 2015

Misticismo Cristão

A religião enquanto ciência é uma disciplina que se inicia de forma simples e, a cada pensamento vai se tornando com um grau cada vez mais elevado de complexidade, a tal ponto de confundir bons estudiosos.

Nos dias atuais encontramos uma diversidade de situações místicas no seio da igreja cristã, que embora com mais força no meio evangélico, também percebe-se nos meios católicos.

Existe uma "queda de braço" entre o pensamento religioso e o pensamento científico, na qual este último se apoderou do que chamamos de lógica, mesmo que também haja lógica no pensamento religioso. No entanto, o pensamento religioso requer também cuidado, pois a simples crença leva-nos a encontrar as justificativas de nossas teses, de forma a garantir suas realidades, muitas vezes desprezando a verdadeira essência de suas justificativas.

A base da igreja cristã é a crença em Jesus, o homem que dividiu a história ao meio, porém com a fonte teórica na diversidade que é a Bíblia e, ela mais tem servido de apoio para a crença, do que a crença ser apoiada nela. Assim, torna-se necessário os dois pensamentos, tanto o religioso, como o científico, pois a Bíblia não é apenas um relato de fé, mas também uma fonte histórica, que ecoa a experiência de povos antigos, no intuito de se ter lições para vida contemporânea.

A interpretação a partir da fonte não é uma tarefa fácil, tendo em vista a interferência do interpretador ser inevitável, mas pode ser administrada, afim de não se fazer o contrário, que é se ter a doutrina que surge, muitas vezes dos delírios cerebrais, para então se recorrer ao conjunto de livros que é a Bíblia, instrumento de maior impacto em toda a Terra, com o objetivo de se encontrar as explicações para tal doutrina e, embora necessitando de muitas doses de fé para se enxergar a doutrina, fruto da imaginação, dentro da Bíblia, repete-se tantas vezes, com euforia e tecnologia, com uma suposta autoridade e reafirmações, que a doutrina é tida como verdade e, por supostamente estar na Bíblia, ser a verdade incontestável.

Dessa forma, há dois "poderes" típicos do misticismo cristão, basicamente encontrados no lado evangélico da força cristã, que são versões de profecia e revelações, conhecidas pelos críticos de "profetada" e "revelamento". Como "profetada" não é uma palavra usual e "revelamento" realmente não existe, são utilizadas para se referir às falsas profecias e revelações. Assim, profetada é uma suposta profecia que trata-se de uma imaginação fértil e, não de algo com base bíblica, ou mesmo espiritual. Revelamento é de modo semelhante a suposta revelação de Deus, mas também se trata da imaginação.

As consequências são diversas, mas podemos no momento nos concentrar nas pessoas comuns, que não possuem tempo para estudar a Bíblia, ou mesmo sobre muitos aspectos da espiritualidade o do pensamento religioso, nas quais buscam esse conhecimento através dos sacerdotes, que por sua vez, não fizeram a "lição de casa", ensinando suas próprias doutrinas, ou "compradas" de alguma fonte que vem  ecoando tradições dessas doutrinas imaginárias, depois utilizam a Bíblia para justificar tais doutrinas e levam muitos ao erro e, até ao ridículo.

Vale ressaltar a importância e manutenção dos dois sistemas de pensamento, pois engana-se que o pensamento científico é o único racional e seguidor de lógica, pois acreditar é o primeiro passo da ciência, que em nada se move, sem primeiramente ter o início na crença, que através de uma hipótese, ou seja, um primeiro pensamento, geralmente pautado apenas em acreditar, ou seja, na fé, é que se inicia o pensamento científico, por sua vez, uma sequência de métodos para se comprovar ou não a hipótese.

Eis então a questão, para se ter o pensamento religioso como fim e não como início, que é o caso do pensamento científico, invertamos os pólos e partamos do pensamento científico, ou seja, da racionalidade, extraindo da Bíblia as essências, de forma a construir doutrinas a partir dela, e não ela ser o instrumento para tentar justificar nossos delírios. Ainda é uma tarefa difícil, mas é isso que as pessoas esperam dos sacerdotes. A consequência é que o misticismo vai se esvaziando, dando espaço a verdadeira espiritualidade, por sua vez, uma aplicabilidade na vida contemporânea.

A Bíblia como fonte e não como causa, traz a verdadeira essência da vida humana, ao contrário do misticismo cristão, que possui as fórmulas mágicas, com os respectivos sacrifícios para sucesso financeiro, casamento, passar em concurso público, dentre uma série de ilusões, que mais vão se distanciando do Cristianismo do que verdadeiramente o praticando.


sábado, 13 de junho de 2015

A geração que nada fez

Cada humano na Terra e além dela pensa no que é ser humano. Indaga-se a si mesmo, na esperança de respostas do que representa a Humanidade, influenciado claramente pelas correntes de pensamento de sua época, muitas vezes ecos de outrora.

O individualismo é tido como evidente em tempos de uma era tecnológica dos finais do Século XX e início do Seculo XXI da Era Comum. No entanto o processo individualista acompanha os humanos desde tempos antigos da Humanidade.

Mesmo assim, a Humanidade, ainda que conceitualmente obscura, representa a união fraterna dos humanos, nos quais cooperam para a existência de um organismo, por sua vez chamado Humanidade.

Em tempo futuros, humanos revisarão a História e lembrar-se-ão dos primeiros anos do terceiro milênio da Era Comum como o tempo em que tal geração de humanos abandonou parte da Humanidade à sua própria sorte. Perceberão que muitos humanos tinham a consciência do mal, mesmo assim deixaram que ele agisse livremente, pois acostumaram-se com ele.

Nas cidades, humanos passam por humanos que estão jogados no chão, com roupas rasgadas, cheirando mal, sujos e com fome. Os veem, mas os ignoram. Indiferentes continuam suas vidas até que não os veem mais, mesmo que eles estejam exatamente no mesmo lugar.

Humanos dessa época serão lembrados como aqueles que amaram mais as coisas, do que seus semelhantes, como também lembrados por ser a geração que nada fez pela Humanidade. Tal período será estudado no futuro como sendo um dos momentos críticos que teria levado à extinção toda a espécie, na qual nenhuma luz brilhou, pois os corações já estavam endurecidos pela indiferença, pelo envenenamento desde tempos antigos, que obscurece a consciência humana e o senso de cooperação na Humanidade, dois temas comuns no futuro, porém misteriosos nesses dias.

O futuro existe não por causa desses dias, mas uma luz que brilhará e acordará os humanos do transe, de forma a conhecer esses obscuros dias, não para se orgulhar, porém para recordar como lições a não serem repetidas e perceber como nos tornaremos melhores no futuro.