segunda-feira, 29 de junho de 2015

A hermenêutica da Teologia da Libertação

A hermenêutica da Teologia da Libertação faz uma leitura a partir da realidade na qual ela surge, a América Latina das injustiças sociais e da opressão sofrida pelo seu povo. A partir dessa realidade, os fundamentos da Teologia da Libertação possuem duas bases, sendo a busca pela justiça social e a própria Bíblia.

A hermenêutica então vai se estabelecendo na leitura dos pensamentos dos filósofos do século XIX, especialmente o de Marx, os quais descreveram a situação de exploração do homem pelo homem, com o advento da Revolução Industrial e, por sua vez a percepção da acumulação de riquezas (lucro) por um grupo, em detrimento do trabalho de outro grupo (classe trabalhadora). Tal hermenêutica traz a interpretação de tais pensamentos a uma aplicabilidade teológica, assim como o “encaixe” à realidade de opressão latino-americana.

No entanto, tratando-se de uma construção teológica, não se trata apenas de considerar os pensamentos revolucionários, como o marxista para a interpretação da realidade, mas também a própria Bíblia. Assim, a hermenêutica da teologia da Libertação faz uma leitura bíblica através da ótica liberacionista, como a libertação do povo hebreu descrita em Êxodo, o pacto no Sinai, com seu código de leis beneficiadoras para a fundação de um país com base na justiça, além de dar um sentido aos ensinos de Jesus, como uma afirmação das denúncias e do caráter revolucionário dos profetas do Antigo Testamento.

Embora tenhamos a possibilidade de explorar a Teologia da Libertação através de muitos autores, Leonardo Boff se destaca, produzindo assim uma literatura que envolve a hermenêutica da Teologia da Libertação. Isso envolve também a ideia de transcendência e imanência, na qual Cristo é a manifestação encarnada de Deus, ou seja, Cristo é a imanência do Transcendental, que é Deus. Cristo utiliza uma linguagem totalmente nova à dos profetas do Antigo Testamento, sendo mais direto, mais prático e, definitivamente, muito mais amoroso. Na hermenêutica da Teologia da Libertação, Cristo é a encarnação da luta dos profetas pela justiça social.

Em referência à Bíblia, a Teologia da Libertação necessita de uma hermenêutica por uma ótica da libertação. Pelas práxis, é inevitável a construção de uma teologia, por sua vez de uma hermenêutica a partir e para o contexto, na qual ela surge e se direciona. Assim pelo que se percebe, a Teologia da Libertação é fundamentada através dessas duas linhas, o contexto de opressão e necessidade de justiça social e, o apontamento da Bíblia, através da hermenêutica da TL, pela necessidade de libertação e justiça.

O positivo na construção teológica de uma hermenêutica que remonta o propósito da existência humana, através da imanência do transcendental, a encarnação de Deus, através do espírito da fraternidade, da justiça e da solidariedade. Isso dá sentido a mensagem bíblica, indo além do que já se considera óbvio, que é a Salvação através de Cristo, mas também de como proceder até alcançar tal objetivo. No entanto, encontramos problemas, no desenvolvimento dessa hermenêutica, pois faz a leitura bíblica a partir de uma realidade contextual à necessidade de um povo, o que pode levar a se perguntar até que ponto nos aprofundamos verdadeiramente no significado bíblico ou estamos influenciando essa verdade através de novos conceitos. Melhor dizendo, porque queremos uma interpretação que justifique o que pensamos, desenvolvemos uma hermenêutica que assim faça, não necessariamente é o significado verdadeiro, ou seja, podemos estar vendo o que queremos ver, através da ótica que escolhemos ver.


REFERÊNCIA

AGUILERA, José Miguel Mendoza. TEOLOGIA LATINO AMERICANA. Dourados: UNIGRAN, 2015. 88p.

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