Sodoma e
Gomorra foram duas cidades destruídas conforme a narrativa bíblica em Gênesis
18, cuja destruição foi tema de discussão entre profetas, como Isaías, Ezequiel
e Jeremias. Seus pensamentos não são compatíveis com o entendimento popular nos
dias atuais.
Os
profetas apontam as causas da ruína de Sodoma e Gomorra relacionadas à
injustiça social e traçam um paralelo com as práticas em Israel e Judá, embora
eventos separados por séculos e, mesmo que não havia ainda sido estabelecida a
Aliança do Sinai, havia já uma aliança com Abraão e, tais cidades existiram
próximas de onde ele vivia, com sua vida nômade ou seminômade, por ser um
pastor. Abraão foi escolhido por Deus para ser o interlocutor do projeto de
Deus na Terra, buscando ensinar aqueles que estavam sob a sua proteção.
Havia um
clamor das cidades, que poderia ser já de uma situação de desigualdade social,
do descuidado com os órfãos e as viúvas, como variadas formas de opressão, num
sistema de acúmulo de riquezas e exploração do trabalho dos mais pobres. Porém
Deus colocou sua atenção nessas cidades para verificar se o clamor condizia com
a prática da justiça, pois ele saberia a verdade, conforme Gênesis 18:20:
"Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem
multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito".
Temos
também que a destruição das cidades aconteceria sem a presença dos justos, pois
estes seriam poupados, como vemos em Gênesis 18:25.28 e 19:15.
Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio;
que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a
terra? Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da
cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. E respondeu Abraão dizendo: Eis
que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se porventura
de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade?
E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. (...) E ao
amanhecer os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e
tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade. (Gênesis 18:25-28 e 19:15)
Os
profetas nesse paralelo denunciam que as práticas em seus países se
assemelhavam às práticas de Sodoma e Gomorra, envolvendo, como já comentado, a
injustiça social, como a opressão aos mais pobres. Dessa forma, podemos
compreender que a interpretação dos profetas, assim como uma alusão ao contexto
dos tempos de Abraão e, a própria descrição nos capítulos 18 e 19 de Gênesis,
refere-se aos pecados da avareza, da injustiça, como também tendo a religião
como suporte para manutenção do sistema de opressão, como falsos profetas, com
falsos ensinamentos, fazendo prevalecer a crença de se praticar a religião
apenas através de rituais, como os sacrifícios. Os profetas fazem as denúncias,
como a corrupção envolvendo o governo, pessoas da sociedade, como os próprios
religiosos e o sistema judiciário, citando como exemplo Sodoma e Gomorra.
Enfim, o adultério, que representa o ser humano ter abandonado Deus e sua
justiça, para se aliar ao que era perverso e injusto.
Como o
pensamento cristão contemporâneo é notório nesse tema “Sodoma e Gomorra”, ao
menos no meio cristão, a interpretação dos profetas não é a interpretação
natural dos cristãos de hoje em dia, pois o que se fala é que Sodoma e Gomorra
praticavam a perversão sexual, orgias etc., sendo que tanto sexo de forma
depravada desagradou Deus, o qual colocou um fim nisso, destruindo as duas
cidades. Já o pensamento dos profetas no Antigo Testamento interpreta a
perversão no sentido da injustiça social.
O aspecto do seu rosto testifica
contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da
sua alma! Porque fazem mal a si mesmos. (...) Que tendes vós, que esmagais o
meu povo e moeis as faces dos pobres? Diz o Senhor DEUS dos Exércitos. (Isaías 3:9,15).
Em geral,
os cristãos não possuem conhecimento da interpretação dos profetas no Antigo
Testamento a respeito de Sodoma e Gomorra (capítulos 18 e 19 de Gênesis). Como
também não é abordado esse caráter de luta de classes, o qual os profetas
enfatizam a respeito das sociedades mesopotâmicas.
Acredito
que os abismos entre o período bíblico e nosso tempo são diversos, de forma a
termos que buscar uma melhor compreensão bíblica, procurando um pensamento
analítico e realizar as conexões entre os diversos textos das Escrituras. Uma
conexão mal feita, como o episódio de Sodoma e Gomorra, nos leva a acreditar
que foi a perversão sexual que as destruiu e oculta o real problema e o real
pecado, que trata-se de uma sociedade desigual, o qual uns se favorecem de
privilégios, às custas da opressão ao próximo. Nos dias de hoje, o ensinamento
tradicional nos colocaria numa situação que não sendo pervertido sexual, nossa
sociedade está salva, fica o “status quo”,
“let it be”, “deixa quieto”. A
interpretação tradicional cristã nos leva ao engano.
Embora já
mencionado anteriormente, as causas da destruição de Sodoma e Gomorra, como a
destruição dos países de Israel e Judá, foi a injustiça social, em resumo: Os
profetas expõem que a religião praticada apenas por sacrifícios de animais e
ofertas não é o que realmente agrada a Deus, mas a santidade e a praticar a
justiça, como cuidar dos órfãos, das viúvas, dos desamparados. Alertam para que
o grupo de poder mude de atitude, pois exploram o povo. No entanto, o que houve
foi uma crescente opressão, um acúmulo de riqueza por parte de alguns
privilegiados e, assim, isso era a perversão, ou seja, o afastamento do caminho
de solidariedade e justiça que Deus havia proposto, o que levou ao colapso da
sociedade israelita e judaíta naquele tempo, assim, como foi também em Sodoma e
Gomorra.
Se o
Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma
seríamos, e semelhantes a Gomorra. Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de
Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que me serve a
mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos
holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de
sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. (Isaías
1:9-11)
Vivo eu,
diz o Senhor DEUS, que não fez Sodoma, tua irmã, nem ela, nem suas filhas, como
fizeste tu e tuas filhas. Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã:
Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas
nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e
fizeram abominações diante de mim; portanto, vendo eu isto as tirei dali. (Ezequiel
16:48-50)
REFERÊNCIAS
BÍBLIA,
A. T. Português. BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ver. Revista e
Atualizada no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
MATOS, Givaldo
Mauro. ESTUDOS NO AT: Os Profetas. Dourados: UNIGRAN, 2014. 102p.
Bíblia
Online. Acesso em [https://www.bibliaonline.com.br]. Disponível em: 27 Jun
2015.
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