sexta-feira, 3 de julho de 2015

A verdade sobre Sodoma e Gomorra

Sodoma e Gomorra foram duas cidades destruídas conforme a narrativa bíblica em Gênesis 18, cuja destruição foi tema de discussão entre profetas, como Isaías, Ezequiel e Jeremias. Seus pensamentos não são compatíveis com o entendimento popular nos dias atuais.

Os profetas apontam as causas da ruína de Sodoma e Gomorra relacionadas à injustiça social e traçam um paralelo com as práticas em Israel e Judá, embora eventos separados por séculos e, mesmo que não havia ainda sido estabelecida a Aliança do Sinai, havia já uma aliança com Abraão e, tais cidades existiram próximas de onde ele vivia, com sua vida nômade ou seminômade, por ser um pastor. Abraão foi escolhido por Deus para ser o interlocutor do projeto de Deus na Terra, buscando ensinar aqueles que estavam sob a sua proteção.

Havia um clamor das cidades, que poderia ser já de uma situação de desigualdade social, do descuidado com os órfãos e as viúvas, como variadas formas de opressão, num sistema de acúmulo de riquezas e exploração do trabalho dos mais pobres. Porém Deus colocou sua atenção nessas cidades para verificar se o clamor condizia com a prática da justiça, pois ele saberia a verdade, conforme Gênesis 18:20: "Disse mais o Senhor: Porquanto o clamor de Sodoma e Gomorra se tem multiplicado, e porquanto o seu pecado se tem agravado muito".

Temos também que a destruição das cidades aconteceria sem a presença dos justos, pois estes seriam poupados, como vemos em Gênesis 18:25.28 e 19:15.

Longe de ti que faças tal coisa, que mates o justo com o ímpio; que o justo seja como o ímpio, longe de ti. Não faria justiça o Juiz de toda a terra? Então disse o Senhor: Se eu em Sodoma achar cinquenta justos dentro da cidade, pouparei a todo o lugar por amor deles. E respondeu Abraão dizendo: Eis que agora me atrevi a falar ao Senhor, ainda que sou pó e cinza. Se porventura de cinquenta justos faltarem cinco, destruirás por aqueles cinco toda a cidade? E disse: Não a destruirei, se eu achar ali quarenta e cinco. (...) E ao amanhecer os anjos apertaram com Ló, dizendo: Levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas que aqui estão, para que não pereças na injustiça desta cidade. (Gênesis 18:25-28 e 19:15)

Os profetas nesse paralelo denunciam que as práticas em seus países se assemelhavam às práticas de Sodoma e Gomorra, envolvendo, como já comentado, a injustiça social, como a opressão aos mais pobres. Dessa forma, podemos compreender que a interpretação dos profetas, assim como uma alusão ao contexto dos tempos de Abraão e, a própria descrição nos capítulos 18 e 19 de Gênesis, refere-se aos pecados da avareza, da injustiça, como também tendo a religião como suporte para manutenção do sistema de opressão, como falsos profetas, com falsos ensinamentos, fazendo prevalecer a crença de se praticar a religião apenas através de rituais, como os sacrifícios. Os profetas fazem as denúncias, como a corrupção envolvendo o governo, pessoas da sociedade, como os próprios religiosos e o sistema judiciário, citando como exemplo Sodoma e Gomorra. Enfim, o adultério, que representa o ser humano ter abandonado Deus e sua justiça, para se aliar ao que era perverso e injusto.

Como o pensamento cristão contemporâneo é notório nesse tema “Sodoma e Gomorra”, ao menos no meio cristão, a interpretação dos profetas não é a interpretação natural dos cristãos de hoje em dia, pois o que se fala é que Sodoma e Gomorra praticavam a perversão sexual, orgias etc., sendo que tanto sexo de forma depravada desagradou Deus, o qual colocou um fim nisso, destruindo as duas cidades. Já o pensamento dos profetas no Antigo Testamento interpreta a perversão no sentido da injustiça social.

O aspecto do seu rosto testifica contra eles; e publicam os seus pecados, como Sodoma; não os dissimulam. Ai da sua alma! Porque fazem mal a si mesmos. (...) Que tendes vós, que esmagais o meu povo e moeis as faces dos pobres? Diz o Senhor DEUS dos Exércitos. (Isaías 3:9,15).

Em geral, os cristãos não possuem conhecimento da interpretação dos profetas no Antigo Testamento a respeito de Sodoma e Gomorra (capítulos 18 e 19 de Gênesis). Como também não é abordado esse caráter de luta de classes, o qual os profetas enfatizam a respeito das sociedades mesopotâmicas.

Acredito que os abismos entre o período bíblico e nosso tempo são diversos, de forma a termos que buscar uma melhor compreensão bíblica, procurando um pensamento analítico e realizar as conexões entre os diversos textos das Escrituras. Uma conexão mal feita, como o episódio de Sodoma e Gomorra, nos leva a acreditar que foi a perversão sexual que as destruiu e oculta o real problema e o real pecado, que trata-se de uma sociedade desigual, o qual uns se favorecem de privilégios, às custas da opressão ao próximo. Nos dias de hoje, o ensinamento tradicional nos colocaria numa situação que não sendo pervertido sexual, nossa sociedade está salva, fica o “status quo”, “let it be”, “deixa quieto”. A interpretação tradicional cristã nos leva ao engano.

Embora já mencionado anteriormente, as causas da destruição de Sodoma e Gomorra, como a destruição dos países de Israel e Judá, foi a injustiça social, em resumo: Os profetas expõem que a religião praticada apenas por sacrifícios de animais e ofertas não é o que realmente agrada a Deus, mas a santidade e a praticar a justiça, como cuidar dos órfãos, das viúvas, dos desamparados. Alertam para que o grupo de poder mude de atitude, pois exploram o povo. No entanto, o que houve foi uma crescente opressão, um acúmulo de riqueza por parte de alguns privilegiados e, assim, isso era a perversão, ou seja, o afastamento do caminho de solidariedade e justiça que Deus havia proposto, o que levou ao colapso da sociedade israelita e judaíta naquele tempo, assim, como foi também em Sodoma e Gomorra. 

Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado algum remanescente, já como Sodoma seríamos, e semelhantes a Gomorra. Ouvi a palavra do Senhor, vós poderosos de Sodoma; dai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos de carneiros, e da gordura de animais cevados; nem me agrado de sangue de bezerros, nem de cordeiros, nem de bodes. (Isaías 1:9-11)

Vivo eu, diz o Senhor DEUS, que não fez Sodoma, tua irmã, nem ela, nem suas filhas, como fizeste tu e tuas filhas. Eis que esta foi a iniqüidade de Sodoma, tua irmã: Soberba, fartura de pão, e abundância de ociosidade teve ela e suas filhas; mas nunca fortaleceu a mão do pobre e do necessitado. E se ensoberbeceram, e fizeram abominações diante de mim; portanto, vendo eu isto as tirei dali. (Ezequiel 16:48-50)

REFERÊNCIAS

BÍBLIA, A. T. Português. BÍBLIA SAGRADA. Trad. João Ferreira de Almeida. Ver. Revista e Atualizada no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.

MATOS, Givaldo Mauro. ESTUDOS NO AT: Os Profetas. Dourados: UNIGRAN, 2014. 102p.

Bíblia Online. Acesso em [https://www.bibliaonline.com.br]. Disponível em: 27 Jun 2015.


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