Marcelo Gil da Silva
A Criação de Adão de Michelangelo (1482) - afresco na Capela Sistina, Vaticano. Imagem de www.vatican.va |
O deputado federal Jefferson Campos (PSD/SP) é o autor do Projeto de Lei 5336/2016 , apresentado em 18 de maio último a seguinte ementa:
Acrescenta um parágrafo 10 ao art. 26 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional e dá outras providências, para incluir a "Teoria da Criação" na base curricular do Ensino Fundamental e Médio.
A proposta se refere ao mito judaico-cristão, demonstrando a grande influência no continente da colonização europeia, por sua vez, com seu sistema de crenças, ao menos dominante nos tempos da conquista americana, tanto cristã católica como cristã evangélica.
No entanto, há também grande número de pessoas ao redor da Terra, que possuem outras crenças, com diferentes cosmogonias, que incluem o surgimento da Humanidade. Curiosamente, em diferentes culturas, encontramos mitos a esse respeito que se assemelham, o que por sua vez, podemos considerar através de uma crítica analítica, a verdade por trás das muitas histórias e, percebemos que os antigos, se utilizavam de elementos que os eram comuns, não tendo a possibilidade de nos dar as informações detalhadas a respeito de células e átomos, mas contribuíram com suas visões de mundo, para que hoje explorássemos mais a fundo.
Temos uma origem cósmica. Somos feitos dos elementos naturais e, é muito comum a crença de estarmos conectados com o cosmos. Isso tem seu gatilho nas muitas religiões, mas também é o entendimento científico, nas palavras de Carl Sagan: "Somos poeira das estrelas" (SAGAN apud SARAIVA, 2002).
As religiões falam sobre a origem humana de uma forma um tanto poética, enquanto hoje a Humanidade busca respostas para entender como foi o processo original.
Agora basta saber qual "Teoria da Criação" pretende-se ensinar, a judaica-cristã, a dos Tupi, a islâmica, a grega, ou todas as milhares de crenças a esse respeito. Ou podemos propor ensinar não uma religião específica, mas o conjunto de valores comuns para a construção de uma Humanidade fraterna, na qual é o verdadeiro espírito religioso.
É comum vermos uma disputa de verdades religiosas, que já daria uma extensa pesquisa e muitas teses para entender os porquês, mas minha desconfiança é encontrarmos, principalmente na igreja cristã evangélica, sacerdotes em posição de riqueza, poder e fama, em geral, leigos, sem a devida instrução para ensinar a respeito de religião e, quando questionado a respeito de alguma interpretação referentes aos textos antigos, ou outro tema, declara ter poderes da divindade para estar na posição em que está e dizer o que diz.
O discurso bíblico tem a nos ensinar muitas coisas para melhorarmos como humanos e, são elas: o amor, a fraternidade, a justiça, o perdão e tudo o que conduz à vida social que não seja a opressão, a miséria, a fome, a violência. O discurso vai além, penetrando também na manutenção do solo para a agropecuária e na conservação ambiental. Tudo conhecimento dos antigos, cada vez com menos espaço nos espaços religiosos.
Referências:
BÍBLIA, Português. Bíblia sagrada. Trad. João Ferreira de Almeida. Ver. Revista e Atualizada no Brasil. Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1969.
CÂMARA DOS DEPUTADOS. PL 5336/2016. Projetos de Lei e Outras Proposições. Disponível em:[http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2085037]. Acesso em: 8 Jun 2016.
SARAIVA, Maria de Fátima O. Nossa origem cósmica. UFRGS: Porto Alegre, 2002. Disponível em: [http://www.if.ufrgs.br/~fatima/ead/origem.htm]. Acesso em: 8 Jun 2016.
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